1. Introdução
A chegada do Kisunla (donanemabe), da farmacêutica Eli Lilly, ao Brasil representa um marco no tratamento do Alzheimer em estágios iniciais, após mais de duas décadas sem novidades terapêuticas significativas. O medicamento foi aprovado pela Anvisa em abril de 2025 e já está disponível em algumas clínicas e hospitais particulares.
Apesar de prometer retardar em até 35% a progressão da doença, o fármaco traz alto custo — podendo ultrapassar R$ 30 mil por mês — e efeitos colaterais relevantes, como risco de hemorragias e edemas cerebrais. Esse cenário exige reflexão não apenas para pacientes e familiares, mas também para os médicos que prescrevem a terapia, que passam a assumir responsabilidades éticas, técnicas e jurídicas.
2. O Kisunla e seus Impactos Terapêuticos
O Kisunla é um anticorpo monoclonal que atua na eliminação das placas de beta-amiloide, proteína relacionada à progressão do Alzheimer. O tratamento é restrito a pacientes em estágio leve da doença, com comprovação da presença dessas placas no cérebro.
Nos estudos clínicos, houve atraso médio de 4,4 meses no declínio cognitivo e redução de 37% no risco de progressão para fases mais graves em até 18 meses de tratamento.
A administração é feita de forma intravenosa, mensalmente, com protocolo inicial de 700 mg nas três primeiras doses e, posteriormente, 1.400 mg até o limite de 18 meses, conforme avaliação médica.
Entretanto, não é indicado a todos os pacientes: há critérios rigorosos de seleção, incluindo rastreamento genético e ressonâncias magnéticas periódicas para monitorar possíveis complicações.
3. Riscos e Responsabilidade Médica
Embora seja um avanço, o Kisunla não está isento de riscos. Durante os estudos clínicos, foram reportados sangramentos, inchaços cerebrais e até óbitos relacionados ao uso do medicamento.
Assim, o médico que optar por prescrevê-lo deve:
- Informar detalhadamente o paciente e familiares sobre benefícios, riscos e alternativas;
- Formalizar consentimento informado robusto, documentando a compreensão do paciente sobre o tratamento;
- Manter registros clínicos completos, incluindo critérios técnicos e científicos que embasaram a prescrição;
- Acompanhar de forma contínua, com exames periódicos e avaliação rigorosa da resposta terapêutica.
Sem tais cuidados, abre-se espaço para responsabilização civil, ética e até criminal em casos de complicações graves.
4. O Papel do Apoio Jurídico
A inovação médica exige também suporte jurídico especializado. No caso do Kisunla, a advocacia preventiva auxilia médicos a:
- Elaborar termos de consentimento adequados ao risco elevado do tratamento;
- Criar protocolos de documentação e comunicação com pacientes e familiares;
- Resguardar o profissional contra alegações de erro médico ou omissão de informação;
- Analisar contratos e possíveis demandas contra planos de saúde, caso o paciente busque custeio judicial.
5. Conclusão
O Kisunla inaugura uma nova fase no tratamento do Alzheimer, mas também amplia os desafios médicos e jurídicos. Prescrever o medicamento não é apenas um ato clínico: é uma decisão que exige fundamentação científica, cautela, transparência e respaldo legal.
A experiência mostra que, diante de terapias de alto custo e risco elevado, a integração entre Medicina e Direito é a chave para garantir não só o acesso ao tratamento, mas também a segurança do médico e a proteção do paciente.